Estou dolorida. Começo a reunir cacos para me fazer inteira de novo.
Minha terapeuta não entende isso. Essa minha necessidade de me fragmentar para me recompor. Mas é que as vezes eu acho que o quadro está tão feio, que a escultura saiu tão torta, que a composição ficou tão dissonante... que pra mim o melhor é despedaçar tudo e começar tudo de novo. Porque se você não reduz a sua obra ao pó e volta a amassar o barro para nova construção, a obra fica imperfeita, fica como se fosse um rascunho retocado. Como aquela pintura que você errou, borrou, e depois tenta consertar.

Portanto, hoje estou dolorida e em cacos. Cacos maiores e mais consistentes e mais fáceis de colar do que antes, quando eu nem me sabia inteira. Não sabia como me remontar.
Hoje eu sei.

Mãos à obra.