quarta-feira, 28 de abril de 2010

De Azulões Vôos e Necessidade de Libertação

Peguei um poema no blog da Martha Medeiros, é de Antonio Cícero que diz a Martha ser parceiro de Marina Lima. Mandei pro padawan Esaú e lembrei da história da cabocla janaína, que a seguir transcrevo:
A Lenda do Azulão
Pela Cabocla Janaína
" Um dia, Janaína e sua irmã Jurema encontraram um azulão na floresta. O pássaro ela lindo, vistoso e tinha um lindo canto.
A indiazinha mais velha, Janaína, pediu a mais nova que lhe ajudasse a pegar o azulãio e assim o fizeram.
Janaína levou o passáro pra casa prendendo seu pézinho com uma corda, para que ele não fugise.
Com o passar dos dias, o passáro adoeceu, cessou de cantar e começou a perder as penas.
Janaína levou o pássaro até o pajé, pedindo a cura do animalzinho.
O pajé disse à menina que a doença do pássaro era a prisão. O remédio era a liberdade.
A indiazinha protestou, dizendo que se soltasse o bichinho ela não o teria mais em sua companhia.
O pajé replicou que ela poderia escolher: manter o azulão preso, e assim ela o veria todos os dias, até que ele finalmemte definhasse e morresse, sem nunca mais cantar. Ou ela poderia soltar o pássaro e correria o risco de nunca mais vê-lo, mas assim ele recuperaria as penas e o canto e cada vez que ela visse um azulão ou ouvisse seu canto, lembraria do lindo pássaro que encontrara na floresta e não do ser moribundo que morreria preso em uma gaiola.
Janaína chorou alguns dias, mas, por fim, não querendo ver seu amigo sofrer, levou-o para a floresta e soltou-o.
A indiazinha voltou para sua taba, mas ficou muito triste e preocupada e mandou sua irmã ir procurar o azulão na foresta.
Jureminha foi várias vezes até a mata, mas não encontrou o pássaro.
Janaína foi, por si mesma, procurar o aninalzinho, mas não o viu. A indiazinha ficou tristíssima. Ele se fora. Para sempre!
Com o tempo a tristeza passou, Janaína cresceu.

Um dia, ela tecia um cesto quando ouviu um trianado, do lado de fora. Janaína saiu e viu, sobre o teto de sua taba um lindo passarinho azulão que cantava.

A partir desse dia, Janaína nunca mais aprisionou ou permitiu que se aprosionasse animal nenhum. E toda vez que ouvia o canto do azulão, ela se lembrava dolindo amigo quem salvara da morte, oferecendo-lhe liberdade.

E o poema do Antonio Cicero, que tem tudo a ver.


Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la
Em cofre não se guarda coisa alguma
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-l, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
do que um pássaro sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
para guardá-lo:
para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarda o que quer que guarda um poema:
por isso o lance de um poema:
por guardar-se o que se quer guardar.

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